sábado, 1 de outubro de 2011

Dor de cotovelo

Fiquei muito envergonhado com as perguntas de alguns jornalistas brasileiro a Ruchard Descoings, diretor do Sciences Po - que concedeu ao ex-presidente Lula a comenda de Doutor Honoris Causa. Como disse o Conversa Afiada, foi preciso um argentino pra defender o ex-presidente da ira e da agressividade das perguntas feitas ao Sr. Descoings. Não quero parecer neurótico, enxergando conspirações em todos os parágrafos da imprensa hegemônica. Mas também não posso ser ingênuo de achar que foi totalmente espontâneo a formulação desses questionamentos a respeito do merecimento de Lula em detrimento a FHC no recebimento da tal comenda.
Não vou aqui relatar o acontecido, já que foi noticiado nos blogs ditos sujos e também na imprensa internacional. Detalhadamente, já que até a reação de alguns presentes foi relatada. Diz-se que alguns estudantes chilenos chegaram a caçoar da não formação acadêmica de Lula e de seu não domínio de nenhuma outra língua que o português. Aliás, disseram que nem o português ele fala direito. Estudantes esses que depois o aclamaram com loas normalmente destinadas à pop stars hoje em dia. Acho maldade.
Mas muito pior que isso é o tratamento da grande imprensa ao caso e a tantos outros prêmios e comendas que continuam a conceder ao nosso mais recente ex-presidente.
Entendo a oposição. Entendo ideais e visões de mundo diferentes. Mas não entendo como não se sentir orgulhoso de um político ou qualquer brasileiro que tenha seu trabalho reconhecido, dentro ou fora do Brasil.
Lembra-me o episódio da entrada de Paulo Coelho na Academia Brasileira de Letras e o reconhecimento internacional por sua obra. Não o leio. Já tentei. Não gosto de sua literatura. Acho que temos escritores melhores. Mas o fato dele ser lido (best seller) em todo o mundo, não só na língua pátria, mas traduzido até em russo, dá sim um certo orgulho de ser brasileiro. Perguntado sobre o caso, Carlos Heitor Cony (em minha opinião, bem melhor que Paulo Coelho) disse ser muito bom que um brasileiro tivesse essa expressão internacional, pois acabava por chamar atenção para outros que nunca tiveram essa visibilidade.
São casos totalmente diferentes, eu sei.  O episódio parece apontar para certa dor de cotovelo de alguns brasileiros que não se conformam com a melhoria de vida de outra parcela da população. E personalizam no Lula esse privilégio que alguns tiveram em detrimento de outros.
Vamos combinar. É vergonhoso os próprios jornalistas brasileiros questionarem – ao presidente do instituto – por que um e não outro.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Puro escapismo

Estava conversando com uma amiga no msn sobre as séries que tem passado nos últimos anos. Isso porque se for começar a falar de todas as que assisti, iria começar com "Magnun" nos anos oitenta.
Falávamos justamente de como existe toda uma linha sobrenatural (que não é de hoje, vide A Feiticeira e outros do gênero) e uma outra que fala de coisas mais "realísticas", sejam as sobre advogados (de Ally Mcbeal à recente Suits ); sobre medicos (House, Grey's Anatomy, Private Practice); sobre polícia forense (não se iluda, existiam outras antes de CSI e Dexter).
A verdade é que, eu prefiro as fantasias de séries como Vampire Diaries, True Blood, Supernatural do que a glamurização da violência e de uma pseudo "cientificidade" que beira o ridículo em produções que se pretendem sérias.
Nunca consegui assistir Dexter. CSI somente alguns episódios, e achei tão sem lógica que voltei imediatamente para os meus episódios vampirescos e sobrenaturais.
Assisto TV (ou computador, ou algo que o valha) para me distrair, puro entretenimento. Não vejo nada de errado com isso. Portanto, prefiro a fantasia do que um arremedo de realidade que acaba bem mais mentirosa.
Claro, ressalva para as séries cômicas que essas sim podem se dar ao luxo de certa licensa poética para para "temperar" a realidade. Ally Mcbeal é um bom exemplo.
A única série, com o perdão do trocadilho, séria que acompanho com gosto é Law & Order - SVU. Essa é a única em que permito que minha curiosidade mórbida se manifeste.
Por isso não entendo o "hype" dessas séries policiais.

sábado, 3 de setembro de 2011

Desafios, metas e encontrar tempo para isso.

Um grande amigo meu me arrumou um possível cliente para assessoria em comunicação. Aceitei o desafio de cara. Confesso que também por causa da vantagem que me proporciona.
O problema de tudo isso é que eu não consigo fazer algo se não for logo o maior, melhor e mais perfeito trabalho possível. Todo mundo sabe que pra se começar tem que primeiro.... começar.
Fico nessa pilha de fazer o melhor mas não sei bem por onde começar.
Iniciei uma pesquisa na área que o dito cliente quer. Vi que o negócio está bem profissionalizado e temo pela minha falta de preparo.
Por outro lado, confio no meu taco. Sei que posso fazer isso. Mas como disse: falta-me tempo.
Ao menos essa sempre foi a minha principal desculpa.
Por outro lado, estou disposto a aceitar a empreitada. Acho que tenho talento e tudo mais necessário, só não tenho utilizado esses talentos ultimamente.


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

True Blood é vampirismo. Mas também é auto-crítica

A cultura norte-americana é muito diversa e rica. E dessa forma, contribui para as de outros países do ocidente. Não há como negar. As influencias são claras: música, cinema, moda, cultura pop em geral. O american way of life está presente até em nossa política (vide o tea party tupiniquim que não me deixa mentir), economia (esse liberalismo amoral que vivemos), e vários outros aspectos que não é o mote neste momento – talvez outra hora.
Mas o que mais me chama a atenção nessa cultura estadunidense, é sua capacidade de brincar consigo mesma. A maioria das produções artísticas – notadamente na música, no cinema e na televisão – mesmo com viés sutil, faz uma crítica dos aspectos mais obscuros de sua sociedade.
Mesmo sendo parte do time das produções “vampíricas” recentes – excluo aqui a excelente produção inicial de Anne Rice que enriqueceu a já extensa mitologia dos vampiros – a série TRUE BLOOD destaca-se por carregar nas cores em cenas sexy’s, na diversidade dos seres fantásticos, na extrema regionalização de seus personagens – ambientados no estado sulista da Louisiana e na grande variedade de núcleos que correm em paralelo e nem sempre convergem em um final comum.
Os tipos são bem clichês. No entanto, em suas composições consegue se perceber a piada que fazem consigo. A negra sofrida, o lixo branco cheio de racismo e de perspectiva loser, o político conservador e elitista com os objetivos e costumes escusos mal disfarçados pelo mais hipócrita sorriso. A elite indiferente, a supervalorização do belo, a idealização romântica. Todos. Os. clichês.
A piada é justamente questionar os valores dessa mesma sociedade sob um ambiente freqüentado por seres fantásticos que vão do comum vampiro, passando pelo indefectível lobisomem até fadas, deuses pagãos, bacantes, bruxos, médiuns, satanistas, fantasmas, fundamentalistas religiosos (ih! Esses são bem reais).
Sookie Stackhouse – nossa protagonista – se mete em todos os engodos possíveis nesse nicho vampírico. A diferença de outras produções semelhantes é que as angústias dos personagens e seu pouco apego por convenções bem arraigadas – principalmente na sociedade americana – é quase um personagem à parte. Tudo se faz na busca pela felicidade: propor um casamento a três, mudar a preferência sexual, matar a própria mãe... coisas assim.
Na mitologia desses seres – não só a dos vampiros - fala-se que sua moralidade é toda própria, mas as situações que o seriado apresenta as vezes são de arrepiar a espinha de qualquer lobisomem.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Começar de novo

Completar quarenta anos faz com que você reflita sobre sua vida. É um final de um ciclo, o encerramento de uma fase da vida em que você contabiliza suas conquistas. Bom, aí vai uma notícia bombástica: não tenho nenhuma conquista palpável pra contabilizar.
Claro que existem coisas que realizei e que me orgulham. Mas todas elas são absolutamente intangíveis.
Aos vinte anos o homem (enquanto espécie, não gênero) deve estar decidindo como será sua vida a partir daí. Aos trinta, boa parte daquilo que estabeleceu como meta deve estar conquistada: estudos; realizações profissionais, realizações românticas; bens conquistados - e pra quem pensa nisso, descendência. Coisas do tipo. Aos quarenta é a idade em que se usufrui disso.
Bom, não quero me deprimir falando disso como se eu tivesse desperdiçado todo esse tempo. Já disse uma grande amiga que "nosso" tempo é diferente e cada um faz o seu.
Toda essa conversa de fases e conquistas não passa de uma exigência pequeno burguesa de uma sociedade que se pauta pela imagem do sucesso.
Acredito que tudo que acumulei e ainda acumularei em termos de conhecimento e compreensão da pessoa humana, das relações e interações sociais; do respeito aos outros, independente de suas crenças, origens, etnias e relações socioculturais, tornou-me uma pessoa melhor e ainda em construção.
Acredito que todas as opções que fiz na vida, levaram-me a um caminho que se mostrou útil a minha formação como pessoa. Mesmo as que aparentemente foram erradas.
Claro que ter uma vivência de quarenta, num corpinho de trinta (ah vai, ao menos o rosto é de trinta) é uma vantagem. A única desvantagem é a cabeça de vinte que ainda está em busca de uma definição, um caminho.
Na verdade, o problema é que existem vários caminhos a seguir. Escolhas nunca foram meu forte. Só que neste momento tenho que ver que o tempo não está se tornando mais meu aliado.
Tentei de toda forma não terminar esse desabafo com alguma frase piegas, mas é impossível não dizer que nunca é tarde. Daqui pra frente as escolhas tem que ser as certas, e elas serão.